Vestígios

pois era agora, a única coisa que nos restava. são, nem mais nem menos do que simples vestígios perfumados em roupas já amarfanhadas e muito usadas, mas até hoje preservadas na gaveta de uma cómoda delicadamente trabalhada em madeira maciça. Dava para perceber, pelos ornamentos laterais quase perfeitos e pela madeira já gasta, que aquele objecto antigo e agora coberto de pó, já tinha uns quantos anos. Foram milhões os pensamentos que surgiram na minha mente quando peguei naquela camisa de linho, com um padrão em xadrez. era um vermelho meio desbotado, e tinha alguns rasgões. mas céus, como mesmo assim era tão perfeita. peguei nela com o maior dos cuidados e pu-la junto ao peito. quase automaticamente, um sorriso delicado surgiu no meu rosto. aquelas doces memórias que eu tinha dele, amontoavam-se agora na minha mente. Todos os mais pequenos detalhes eram agora revividos no meu pensamento, quase como um filme que é projectado numa singela parede branca. Logo se seguiu de uma lágrima que escorreu numa trajectória quase perfeita. O facto de saber que já nada daquilo existia mais, matava-me brutalmente, sem qualquer dó ou piedade. Naqueles tempos eram estas as memórias que usávamos para ultrapassar os pequenos curtos-espaços de tempo que passávamos distantes um do outro. Mas hoje, eram essas aquelas que nos impediam de ultrapassar fosse o que fosse. éramos agora obrigados a aprender a sobreviver, a um tempo de vida sem qualquer tipo de contacto entre os dois. Era quase como se não tivesse existido qualquer tipo de ligação entre os dois. Na verdade, não havia qualquer rasto de que em tempos um grande amor ali tenha existido. éramos nós os únicos que possuíam algum tipo de prova. e também os únicos que sabiam da existência daquele amor. Ele, possuía apenas meras recordações. Já eu, possuía um coração completamente destruído e uma almofada ainda molhada com as lágrimas de todas aquelas noites passadas em branco.