Tinhamos ficado de nos encontrar num velho celeiro, a alguns metros da praça da nossa cidade. não era assim tão longe. mas ainda tínhamos que andar durante cerca de meia hora. mas a saudade que sentíamos, superava qualquer distância. pelo menos naquele caso. quando cheguei, não o vi. procurei por entre os altos e extensos campos. Recebi uma sms dele. dizia : "vem ter cmg ao celeiro." ao chegar á porta do celeiro, parei. respirei fundo e tentei ocultar o sorriso enorme que preenchia mais de metade do meu rosto. respirei mais uma vez e abri a porta e entrei. lá dentro, o ambiente era escuro, sentia-se a humidade do ar, e um agradável cheiro a feno rodeava o local. atrás de mim, ouviu-se um estrondo. a porta tinha-se fechado totalmente. parecia um bocado os típicos filmes de terror que costumava ver, agarradinha à sua almofada. a porta fechava-se e alguém aparecia com um facão na mão. sinceramente? os pensamentos que estavam agora a ocupar-me a mente, só tornavam o ambiente ainda mais sinistro e assustador do que já era. senti algo a agarrar-se á minha cintura. e ouvi uma voz rouca e algo artificial. é claro que se o ambiente fosse outro eu tinha parado e raciocinado. mas dado ao ambiente algo terrorífico no qual eu me encontrava, agi como qualquer outra pessoa racional e no seu perfeito juizo: dei um valente grito e ' ai pernas para que vos quero '. Inteligente e de primeira categoria, eu sei, eu sei. depois disto, gargalhadas invadiam completamente aquele espaço. aquele riso.. não me era estranho..
- ahah, ' ahhhhhh , oh meu deus, oh meu deus' - disse o ainda desconhecido a tentar fazer uma voz algo parecida com a minha, resultando num completo falhanço épico. - devias ter visto a tua cara, ahahah.
era o Tiago. um bocado óbvio ser ele né' ? pois. eu estava fula. mas o riso excêntrico e louco dele, sejamos sinceras: punha qualquer um a rir a bandeiras desfraldadas.
- ah-ah-ah. muito engraçado! - disse eu, fazendo de tudo para não me desmanchar a rir. dito isto, ele agarrou-me a cintura e deu-me um beijo na bochecha. não consegui esconder um sorriso. virei-me e cumprimentei-o com um longo e molhado beijo. ai! as saudades que eu tinha de sentir os seus lábios finos e delicados.
- Tinha saudades tuas. - disse ele abraçando-me com força.
- Eu também tinha muitas tuas amor. - o celeiro era abafado. especialmente quando se tratava de um dia de verão como aquele. aproveitei a oportunidade e corri lá para fora, como uma criança que está livre. A brisa fresca ia de encontro ao meu rosto, e fazia esvoaçar os meus cabelos longos e ruivos. e lá ao fundo, eu conseguia ouvir Tiago a chamar-me. « Rita ! Oh Rita! Eu vou-te apanhar! » e pelo meio conseguia ouvir as simples risadas que ele dava. Eu percorria os campos extensos, agora cobertos de pequenas mas delicadas flores, com uma alegria contagiante. eu sentia-me em casa. sentia-me livre. feliz. parei por breves instantes e inspirei aquele ar renovado. sorri quase instantaneamente. sentia os braços longos e fortes de Tiago a rodearem o meu corpo. e logo me senti a ser levantada do chão.
- Tiago! põe-me no chão! - dizia eu, rindo e esperneando.
- hum.. tens a certeza ?
- sim! - dito isto, um sorriso malicioso apareceu no rosto dele. eu parei de me rir. - oh não.. - eu sabia que quando ele sorria daquela forma, bom. estava tudo lixado. começou a girar, a girar, a girar, a girar até estarmos os dois tontos o suficiente para nos deixarmos cair na relva macia e fofa. ao cairmos, partilhamos uma gargalhada juntos. Tiago estava agora deitado sobre mim. os nossos rostos logo se tornaram sérios, e suspiros de alivio tomavam agora o lugar dos risos incontroláveis. desviou suavemente a minha franja que estava a cobrir toda a minha testa. e sorriu. acariciou-me o rosto e disse num tom suave e meigo " minha bebé ". não consegui ocultar um sorriso embaraçado. a ideia de alguém me tratar por " minha bebé " já era fofinha o suficiente. quanto mais dito daquela forma, com aquela voz rouca, mas sensual. Trocávamos olhares ternos, e profundos. era como se os meus olhos claros se perdessem na escuridão dos olhos dele. um sorriso mútuo apareceu instintivamente. como era bom olhá-lo daquela forma. e, meu Deus, como era maravilhoso ter alguém a retribuir-nos um olhar tão meigo. Tudo estava a decorrer de forma perfeita. acho que qualquer biógrafo ou escritor de renome, descreveria a nossa relação como um ' Perfeito Conto de Fadas ' ou algo do género.. Mas " Tudo o que é bom, acaba depressa ". seria esse o rumo que isto levaria? ou seríamos nós a fazer a excepção? eram estes os pensamentos que há noite invadiam a minha pessoa. pensamentos estes que um dia viriam à superfície, e deixariam de rastos todos os que os tentassem impedir.