Antídoto
e ali estava eu. perdida em costantes dilemas, e pensamentos que eu pensava ter esquecido há muito. e como aquilo me cansava: dentro da minha mente, mil coisas eram debatidas até ao últtimo segundo, todas elas em simultâneo. A conclusão final de mais uma noite perdida, era claramente óbvia. o nível de desespero era agora tão elevado que quase podia ser comparada a uma dose letal. as opções eram escassas. não havia qualquer opção válida ou fácil: tudo deixara de ser assim. só havia duas opções: ou lutava até ao fim, e céus, rezava para que saísse vitoriosa. ou, de uma maneira, acobardava-me e decidia pôr termo a tudo de uma vez. sem mais sofrimento, sem mais qualquer tipo de dor. ' análise de consequências ' pensei. eu não tinha força alguma, para qualquer acto que fosse. e certamente não tinha ninguém que fosse capaz de me dar um empurrão que fosse. estava mais frágil do que nunca. e isto, tornava a tal ' saída vitoriosa ' completamente improvável. impossível, talvez. aquela noite, foi sem dúvida, a mais longa de toda a minha vida. tinha passado horas infinitas a analisar tudo de trás para a frente. todos os pequenos e improváveis promenores. tinha revivido, uma vez mais, todos os momentos que tinha vivido em outros tempos. quase senti todas as lágrimas a escorrerem de novo pelo meu rosto. e céus, como aquilo me doía. ' uma montanha russa inacabável ' diria eu, se o espirito e a ocasião fossem outros. acreditem ou não, reviver e repetir cada momento, cada pormenorzinho, infinitas vezes, não tornava, de todo, a dor um pouco mais suportável. a dor limitava-se a crescer, até nos consumir por favor. a decisão era óbvia, e estava tomada. suspirei, e olhei a meu redor uma ultima vez. uma expressão de desapontamento, ocupava agora o meu rosto. e ali estava eu: frente a frente com a minha própria assassina. peguei nela com a maior delicadeza do mundo: era afiada, grande. mas incrivelmente leve. levei-a até ao meu pulso. observei, pela ultima vez esperava eu, aquelas cicatrizes que ainda hoje permaneciam em mim. e como habitual costume, relembrei uma vez mais cada história de cada uma delas. uma raiva e uma dor, subiram á superfície em forma de lágrimas. fechei os olhos com força, na esperança de tudo aquilo passar. porque não podia ser aquilo um pesadelo? podia. mas não era. não desta vez. enchi-me de coragem e senti um enorme arrepio, quando senti o metal gelado da faca, em contacto com o meu pulso fino. por um breve momento hesitei. fiquei imóvel. algo maravilhoso, apoderara-se agora do meu pensamento. era algo que estava há tanto tempo desaparecido, que era quase irreconhecivel. na minha mente, relembrava todos os momentos em que eu sorri verdadeiramente. sorrisos lindos, perfeitos cada um da sua maneira. os meus sorrisos. todas aquelas gargalhadas sentidas, todos os olhares preenchidos, e todos os sentimentos agradáveis que eu pensava terem sido eliminados da minha mente, estavam de volta. mal sabia eu, que eu tinha a solução mesmo diante de mim. tinha a resolusão para todos os problemas. eu tive, o mais próximo que podia existir, a última saída. "a Cura"' para todos os males.