In vino veritas

 
Perco-me algures no meio de tintos e rosados. Ecos surgem-me, ressoam em mim, sussurros indecifráveis
Correm-me místicos oceanos, inconscientes universos de outras vidas,
E talvez até mesmo desta.
O corpo grita o que o coração esconde, e ainda assim não o consigo traduzir.
Serão lutos ou lutas? De qualquer modo, quão clichê. 
Uma vida inteira de lutos intermináveis. Sucessivos. De quem amei, de quem não me amou, de quem fui e de quem poderia ter sido. Lutos pelos lutos que ainda não chegaram. Lutos pelas lutas inacabadas.
O meu corpo é enigmática tela, e estendem-se-me nas veias intencionais palavras.
Miro nomes desfocados, canções fragmentadas, fados cantados.
Choro e já nem sei porquê. Penso em quanto a tristeza me pesa. Quanta escuridão em mim carrego. Uma coexistência paradoxal, por vezes quase invisível ao comum dos mortais. Penso em com quem me cruzei e em quem nela me encontrei. Em quem foi capaz de a vislumbrar. E a quem permaneceu eterno mistério, que nem um estranho desconhecido por decifrar. Questiono-me qual das duas será mais importante. Ou, quiçá, mais assustador. 
Ser vista ou não o ser?
Permanecer sol ou ser eternamente lua? 
Às vezes sinto-me um fantasma de mim mesma. 

In vino veritas, 
In vino ploro.

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