Tinha-me esquecido das essências.
Esqueci-me de quem era. Quis esquecer quem sou, e quis esquecer todas as memórias que tenho cravadas no meu peito. Nunca soube amar-me. Nunca soube como ser capaz de gostar de mim. Nunca fui capaz de aceitar quem era. E sempre tive medo da solidão. Nunca gostei de estar sozinha. Nunca o quis. Há algo na solidão que nos torna em seres vulneráveis. Frágeis. Nunca me pude permitir ser frágil ou vulnerável; mesmo que o fosse. Esqueci-me de como se escreve. Perdi aquilo a que durante muito tempo chamaram de "dom para a escrita". Já não sei construir frases. Já não sei unir palavras, ou escolhê-las. E passei os ultimos tempos, que pareceram séculos, a tentar encontrar eufemismos para o dizer. As pessoas perguntavam-me pela escrita, e eu dizia estar no meio de uma crise, de um bloqueio criativo. E ria-me, ironicamente. As pessoas riam, e mudavam de assunto. Mas eu sempre vi. Sempre vi a mudança presente nos seus olhos quando liam o que eu escrevia. O brilho de antes desaparecera e era agora um sorriso forçado. Eu já não sei escrever. Já não me sei expressar. Já não consigo encher as páginas dos meus cadernos com versos, meia dúzia de frases mal estruturadas. Faço agora parte da população que depende dos escritores para se expressarem. E dói. A vida tornou-se um pouco mais miserável agora que perdi o dom das palavras. Agora que perdi a minha essência.
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