aquelas horas, os corredores estavam desertos. as grandes janelas que ocupavam as paredes, eram a única iluminação presente. pousei os livros, e sentei-me no parapeito da janela. parecia que o tempo andava o mais lentamente possível. um gélido silêncio pairava no ar. dei um longo suspiro, peguei no caderno que se situava do meu lado, e folheei as finas folhas que enchiam a capa dura do meu caderno, enquanto lia palavras soltas que se refugiavam nessas mesmas folhas. ouvi passos vindos do fundo do corredor. olhei e o meu coração gelou; era ele. estava sozinho, e andava com o seu andar desajeitado que eu reconheceria a km de distância. naquele momento, o meu coração gritava o seu nome. o meu peito, transbordava saudade. queria correr para os seus braços. queria dizer-lhe tudo aquilo que sentia. queria tê-lo inteiramente para mim. de facto, eu queria que ele fosse meu; da mesma maneira que eu era dele. A minha consciência gritava-me ao ouvido, pedindo e implorando que eu controlasse os meus impulsos. para não me iludir mais, para parar. antes que fosse tarde demais para me impedir de cometer, provavelmente, um dos maiores erros da minha vida. mas como sempre, o meu coração falou mais alto. não podia parar. não podia ignorar aquele sentimento que prevalecia dentro de mim. não conseguia ser racional. pelo menos, não naquele momento. nada mais existia naquele instante. o tempo parara, quase como se estivesse a esperar por nós; como se este momento fosse decisivo no resto das nossas vidas. ele vinha na minha direcção. o silêncio que antes pairava no ar, era agora quebrado pelo bater dos nossos corações, que batiam em sintonia, quase formando uma perfeita melodia. estávamos agora a poucos metros de distância um do outro. respirei fundo, levantei-me, e corri para ele. impedindo-o assim de proferir uma palavra que fosse. abraçei-me a ele, com todas as forças que possuía. ouvia os seus batimentos cardíacos, em sintonia com o cair da chuva lá fora. eram os únicos sons audíveis naquele instante. estávamos num mundo á parte. num nundo só nosso; e de mais ninguém. talvez aquele momento tenha realmente sido decisivo nas nossas vidas. pois aquele, era o momento ideal para lhe abrir o meu coração, e deixar sair todas as emoções que eu tentava diariamente conter. o momento para reunir todas as palavras que um dia me escaparam, e entregá-las a ele. aquele, era de facto o momento pelo o qual sempre esperei. e o momento que mais uma vez eu deixei escapar. talvez, se a situação fosse outra, se as coisas entre nós não estivessem tão alteradas como estavam, não permitindo rearranjar o que quer que fosse, eu não o tivesse deixado fugir-me pelas mãos daquele jeito. mas este, foi apenas mais um "talvez" na minha longa lista de incertezas. o abraço que poderia significar o nosso começo, não significou nada mais do que o nosso fim. No fundo, ambos sabíamos que aquele mesmo instante era uma despedida. e que no segundo em que os nossos braços se soltassem, e os nossos corpos se desunissem, nos perderíamos para sempre no passado que juntos construímos. passaríamos de amantes, para desconhecidos com uma história. história esta que teve o seu final neste mesmo dia. mas talvez, só talvez, sempre tenhamos sido como desconhecidos um para o outro; talvez sempre tenhamos desconhecido o que sentíamos um pelo o outro.
Engraçado como tudo é tão frágil.
Como apenas um segundo é suficiente para finalizar tão grandioso sentimento.